1 de junho de 2015

Resenha | Deserto de Ossos - Chris Bohjalian

Título: Deserto de Ossos
Autor: Chris Bohjalian
Editora: Companhia Editora Nacional
Páginas: 344
Ano: 2015
Adicione: Skoob
Compare e Compre: Buscapé

Em 1915, o massacre de milhares de armênios perpetrado pelos turcos tingiu para sempre as areias do deserto sírio com o sangue e os ossos de uma civilização inteira. Em meio a esse cenário desolador, Armen Petrosian, um jovem engenheiro armênio que perdeu a esposa e a filha, e Elizabeth Endicott, uma rica jovem americana, se apaixonam. Mas antes de assumir o que sentem, eles se separam quando Armen se alista no exército britânico e Elizabeth vai trabalhar como voluntária. Ambos testemunharão atrocidades que os marcarão para sempre antes que possam se reencontrar. Quase um século depois, às vésperas do centenário do genocídio, a neta do casal, Laura, embarca em uma jornada pela história de sua família, descobrindo uma história de amor, perda e um delicado segredo que ficou soterrado por gerações.


O ano é 1915, e o cenário mundial é marcado pela Primeira Guerra Mundial. Nesse período, o Império Otomano acaba realizando uma brutalidade: o genocídio de milhares de armênios. Buscando eliminar a cultura e a religião do povo armênio do Império, o governo autorizou a deportação e morte da população dessa origem. Surge então a pergunta que não quer calar: ''Como um milhão e meio de pessoas morrem sem que ninguém veja?''. É em meio a esse cenário desolador que acompanharemos a trama de Deserto de Ossos.

Elizabeth Endicott é uma garota americana, filha do banqueiro Silas Endicott. Ela e seu pai deixam a América rumo a cidade de Alepo, na Síria, com a missão de ajudar as vítimas do genicídio que ali estão. Apesar de ter apenas um curso básico de enfermagem e pouca fluência no idioma armênio, Elizabeth se voluntariou para trabalhar no hospital e informar a organização Amigos da Armênia sobre a atual situação vivida no local.

E é em Alepo, dias depois de sua chegada, que ela conhece Armen Petrosian. Ele é um engenheiro armênio que perdeu a esposa e a filha recém-nascida, quando elas foram deportadas e guiadas pelas areias do deserto. Quando Armen e Elizabeth se conhecem a atração é instantânea. Após se conhecerem melhor e estarem a ponto de viver esse romance, Armen acaba tendo que ir embora, pois se alistou no exército britânico a fim de lutar contra os turcos e vingar sua família. Elizabeth continua então em Alepo, e os dois começam a se corresponder por cartas, apesar do receio de talvez nunca se reencontrarem.

Quem nos leva a conhecer essa história quase um século depois é Laura, escritora e neta do casal. Após ver fotos e publicações que reportavam ao passado de sua família, ela se sente atraída a descobrir a história de amor de seus avós, desvendando também um frágil segredo escondido por anos.

A narrativa é realizada tanto em 1ª como em 3ª pessoa. Os capítulos são formados por diversos trechos. O primeiro trecho de cada um deles é narrado em primeira pessoa pela Laura, que vai contando ao leitor algumas de suas experiências de vida e de sua descendência armênia, ao mesmo tempo que vai mostrando como ela encontrou as cartas, diários e escritos de sua avó, que as motivaram a contar tal história. O restante do capítulo é então narrado em terceira pessoa, contando os acontecimentos de 1915 e a guerra que Armen vivenciava enquanto Elizabeth era voluntária no hospital, além dos demais fatos que estavam sendo vivenciados pelos protagonistas secundários em Alepo.


Apesar de termos Elizabeth e Armen como principais protagonistas da história, há também outros personagens que merecem destaque na obra. Como exemplo temos os alemães Helmut e Eric, que não concordam com o posicionamento do seu país e tentam, através das fotografias, mostrar ao mundo a barbárie que ali ocorre.

Outro relato que conquista o leitor ao longo do livro é o de Nevart e Hatoun. Nevart chegou a Alepo com um grupo de deportadas, e apesar de não ter filhos, ela sentiu que era sua missão maternal proteger Hatoun, uma garota dentre as deportadas que viu a mãe e irmã serem assassinadas durante a longa marcha pelo deserto.

A obra conta com algumas cenas fortes sobre a guerra e a deportação, e é impossível não se sensibilizar com o que alguns protagonistas tiveram de enfrentar. O problema é que foi apenas nesses momentos que consegui nutrir algum tipo de afeição por eles, fazendo assim com que o livro não me arrebatasse da maneira esperada.

Ainda que o romance seja fictício, o autor introduziu na obra elementos do seu próprio aprendizado como neto de armênios. Seus avós vivenciaram o massacre, sendo que o enredo é fortemente marcado por esse pano de fundo.

O que mais impacta o leitor é a questão do genocídio e a forma como os turcos são impiedosos em suas ações, matando os homens e forçando as mulheres a caminharem por um deserto sem fim, direto para a morte iminente. Apesar da brutalidade, esse tema usado para dar vida a história foi o mais encantador para mim, pois não tinha conhecimento sobre, e o livro acabou me trazendo diversas novas informações históricas.

Chris Bohjalian soube mesclar muito bem ficção com realidade e trazer ao leitor perguntas fundamentais, nos fazendo questionar se as guerras entre raças e religiões que tentam demonstrar-se superiores algum dia irão ser dignas de todas as mortes inocentes que foram geradas.

Uma leitura recomendada para todos, que traz em seu título sinônimo de tristeza. Deserto de Ossos fará você refletir sobre aquela pergunta feita inicialmente, e o quão desoladora pode ser sua resposta.
''De qualquer modo, a resposta curta para aquela primeira pergunta – Como um milhão e meio de pessoas morrem sem que ninguém saiba? - é realmente muito simples. Você as mata no meio do nada.''    Pág. 319

25 comentários:

  1. Olá Rafaela, adoro livros que como este trazem um plano de fundo bem desenvolvido e com fatos inspirados em acontecimentos reais, espero poder lê-lo em breve e conhecer um pouco mais sobre esta guerra.

    Visite "Meu Mundo, Meu Estilo"

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    1. Oi Jéssica!
      Livros assim são ótimos, já que os fatos reais podem nos revelar muito que não sabemos da história mundial.
      Beijos!

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  2. Não conhecia o livro mas gostei da premissa e da temática escolhida, escrever uma história baseada em algo tão pesado e real é bem complicado ainda mais sem sair do foco ou escrever coisas aways parabéns pela resenha :)

    http://mylittlegardenofideas.blogspot.com.br/

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    1. Obrigada Paac! Apesar da dificuldade que essas temáticas reais trazem, o autor conseguiu não fugir do contexto, o que foi realmente ótimo.
      Beijos!

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  3. Livros que mesclam fatos reais com ficção sempre me atraem. Esse eu não conhecia, mas parece ter uma história maravilhosa. Histórias de amor em meio a guerra são muito tocantes.
    E me parece que a escolha forma do formal do autor para apresentar a narrativa é muito interessante, nos deixa com uma sensação de nostalgia.
    E ainda tem a questão do genocídio. Como o ser humano pode ser tão cruel.

    Beijos!

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    1. Oi Nilda!
      Apesar de eu não ter me afeiçoado tanto aos protagonistas, a história de amor em meio a guerra é ótima, e a questão do genocídio foi o que me ganhou! Recomendo a leitura.
      Beijos!

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  4. 'Como um milhão e meio de pessoas morrem sem que ninguém veja?'' pergunta fabulosa, mas isso aconteceu e acontece até hoje, se analisarmos com cuidado a forma como as guerras acontecem. eu gostei do enredo e aprecio livros que mesclam ficção e realidade, que trazem fatos novos da história.
    http://www.poesianaalma.com.br/

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  5. Isso me lembrou a segunda parte do primeiro livro da saga do Sherlock Holmes (Um estudo em vermelho, se não me engano). A história é bem parecida. Como gostei daquela, fiquei curiosa quanto a essa. Vou procurar lê-lo.

    Beijo ;*

    http://miasodre.blogspot.com.br/

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  6. Eu estou com esse livro aqui e não sabia direito sobre o que era, agora que sei, quero muiiito ler.
    Parece um drama sensacional. Adorei os elogios que você fez, só me deixou mais curiosa para fazer a leitura!
    beijos
    www.apenasumvicio.com

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  7. Oi, Rafaela!
    Gostei demais do lado histórico do livro. Gostei do título, da capa e da diagramação que vi aqui no post. Estou pensando seriamente em adquiri-lo logo e iniciar a leitura, ainda que tenha outros vários para ler. Ótima resenha!
    Com carinho,
    Celly.

    Me Livrando || Livre-se você também!

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  8. Eu gostei da sinopse do livro, achei bem diferente do que eu costumo ler, mas o que me convenceu foi a questão da narrativa ter 1° e 3° pessoa. Achei isso interessante e acho que pode ser uma leitura que vai me agradar.

    http://laoliphant.com.br/

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  9. Oii Rafa, tudo bem com você?
    Esse livro deve ser triste não é? Por retratar esse sofrimento vivido pelas famílias, num período tão devastador como esse. Parece ser um bom livro, apesar de ser triste.

    Beijos da Jéss ♥
    Brilliant Diamond | Fan Page

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  10. Oi, tudo bem?
    Apesar de o livro ter um cenário e uma premissa bem interessante, eu não estou muito no clima desse tipo de leitura agora!
    O livro apresenta um conteúdo mais pesado já que trata de genocídios e guerras e eu estou afim de umas leituras mais leves no momento.
    Mesmo assim é uma ótima dica para quem gosta de livros nesse gênero.

    Beijão :*
    http://www.livrosesonhos.com/

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  11. Oi Rafa!
    Não conhecia o livro mas já deu pra perceber que ele tem uma carga emocional forte por conta de todo drama sofrido por causa da guerra, não? Fiquei muito curiosa para saber mais sobre essa história! Adorei a resenha.
    Beijos
    Carol
    http://www.sobrevicioselivros.com

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  12. Não conhecia a obra, mas apesar da sua excelente resenha, o livro não me chamou muita atenção. Estou em busca de livros com magia, bruxas, vampiros, sabe? .... Vou deixar para a próxima,
    Bjs

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  13. Oie! Tudo bem?

    Não conhecia o livro. Adorei a resenha! Fiquei instigada. Gosto de obras com cenário de guerra. Eles sempre nos trazem reflexões que são levadas para a vida e pelo jeito com esse não é diferente. Adicionado à lista de desejados! :D :D

    Beijos,

    Juliana Garcez | Livros e Flores

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  14. Oi Rafa, tudo bem?
    Acho muito bom quando o autor escreve sobre algo que ele realmente conhece, soa mais verdadeiro, mas esse livro não leria por ter como pano de fundo a primeira guerra, não gosto.
    Bjs

    A. Libri

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  15. Oi, tudo bem?
    Eu confesso que não costumo ler livros dessa editora, isso porque dificilmente conheço algum, sabe? E esse livro eu também não conhecia, mas fiquei bem curiosa com a premissa, pois a mesma é bem interessante e pela sua resenha deu para perceber que o autor soube criar uma boa história.

    Beijos :*
    Larissa - srtabookaholic.blogspot.com

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  16. Gostei da escolha do autor, trazer um plano de fundo real e pesado, é bem difícil trazer esse tipo de história, ainda mais deixando a história boa! Adorei a resenha, está muito bem escrita e desenvolvida!

    Abraços e até!

    http://lendoferozmente.blogspot.com.br/

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  17. Nossa, esse é exatamente meu tipo de livro! <3
    Sou apaixonada por romances que mesclam relacionamentos com história real. Sempre leio livros ambientados na guerra e maria mole que sou choro muito! Se fosse me guiar só pela capa acho que nem me interessaria, mas depois de ler essa suas resenha fiquei louca de vontade de ler!!

    http://www.livrologias.com/

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  18. Essa temática de guerra misturada com romance sempre trazem os livros com as histórias de amor mais lindas e cheias de emoções que eu adoro! Fogem do clichê né? Adorei sua resenha, espero que em breve eu consiga esse livro para ler.

    Beijos,
    http://www.girlbeinggeek.com.br/

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  19. Oi, Rafaela! Tudo bem?

    Puxa que livro!
    Gostei muito!!!

    Acho genial quando o autor consegue mesclar a realidade com a ficção e em meio à isso, um romance... acho incrível!
    Acredito que ainda irei ler "Deserto de Ossos". :)

    Visite-nos e caso queira, siga-nos:
    Irmãos Livreiros

    Beijos!

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  20. Nssa que capa forte! quando a via pensei que era sobre uma guerra e muitos mortos e lendo sua resenha acho que é bem por aí, apesar de você não ter se afeiçoado muito com os personagens acho que eu gostaria bastante do livro, pela sua resenha percebi que é um tipo de leitura que me agrada bastante.

    http://vocedebemcomaleitura.blogspot.com.br

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  21. Não conhecia esse livro, obrigada pela resenha.
    Acho que é um livro bom de se ler, especialmente por tratar de situações que não estamos acostumados. As cenas fortes que você disse servem pra nos aproximar mais das dores dos outros. Espero que tenha oportunidade de ler esse livro e me sensibilizar também.

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  22. Nossa parece ser um livro forte, gosto de livros deste tipo e estou procurando alguns que me dêem esse choque de realidade, mesmo que se passando em 1915. Acho que até hoje muitas pessoas são mortas sem que ninguém se dê conta ou até mesmo na nossa frente e simplesmente deixamos passar.
    Se eu tiver a oportunidade irei gostar de ler e descibrir o que à por trás do romance e qual o segredo do casal.

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