30 de março de 2015

Resenha | Uma Canção Para a Libélula (Parte I) - Juliana Daglio

Título: Uma Canção Para a Libélula - Parte I
Autora: Juliana Daglio
Editora: Deuses
Páginas: 238
Ano: 2014
Adicione: Skoob
Compre: Editora Deuses

Era uma comum primavera numa fazenda qualquer, mas um encontro inusitado aconteceu: a Menina e a Libélula se viram pela primeira vez. Assombrada por um medo irracional da Morte, a Menina é marcada por esse encontro para o resto de sua vida. Compõe então uma canção em seu piano, homenageando a misteriosa libélula.

Os anos se passaram, Vanessa vivia em Londres e tinha a vida cercada por seu iminente sucesso como pianista, porém, algo aconteceu, mudando seu destino: Uma doença, uma viagem e um reencontro.

Vanessa precisará encarar fantasmas que sequer lembrava um dia terem assombrado sua vida, tendo de relembrar a morte do irmão e reviver seu conflito com a mãe. E mais importante e mortal, conhecer a grande antagonista de sua vida, a quem chama de Vilã Cinzenta.

De Londres a São Paulo, dos Palcos aos Lagos. “Uma canção para a Libélula” é a história de uma alma perdida e de sua busca por quebrar o casulo de sua existência, para só então compreender o sentido da própria vida. Este livro é um profundo mergulho em uma mente nebulosa, permeada por lagos obscuros e pela inusitada morte; não havendo sequer esperanças.


Aos 24 anos Vanessa Santos é uma jovem pianista em ascensão na Europa. Atualmente ela mora em Londres, com sua tia Lorena, seu tio Ted e a prima Becca. 

Prestes a alavancar sua carreira com a gravação de um disco, Vanessa se vê obrigada a retornar a São Paulo devido os problemas de saúde de seu pai. Mas nem os treze anos vividos longe de casa fizeram-na esquecer dos dramas pelos quais viveu e, ao retornar, terá de enfrentar os fantasmas de seu passado e encarar a pessoa que lhe provocou tamanho sofrimento: sua mãe.

Juliana consegue nos conduzir com maestria pelo tema central do livro, a depressão. Como um problema sério pelo qual muitos tem de passar, não é uma doença que deve ser ignorada. Assim como a protagonista demonstra inicialmente, muitas pessoas tem o mesmo comportamento de não admitirem que estão com dificuldades e se acomodam nesta situação sem tentar buscar ajuda e uma solução. A depressão é uma Vilã Cinzenta que sempre está lá, puxando as pessoas para os seus piores pesadelos e tentando mostrar que sua vida não vale nada.
''Meus dedos correram até o navegador de pesquisa e digitaram a palavra que sussurrava em meus ouvidos: depressão.
Quatrocentos mil resultados enfeitaram a tela, de dez em dez. Um infinito de informações sobre o problema que escreveram em meu prontuário. Ver aquilo tudo brilhar em linhas azuis naquele monitor só fez me sentir ainda mais sozinha. Sozinha entre tantos que provavelmente eram rotulados como eu. Sujeitos de uma massa improfícua e descartável. Um emaranhado sem rosto de pessoas cabisbaixas e sobrepujadas pela própria mente.''  Pág. 198


Além do tema, a trama também é diferente de tudo que costumamos ler atualmente. Na maioria dos livros conhecemos as mães como pessoas maternais e amorosas ou, em outros casos, apenas como pessoas não amigáveis que ignoram seus filhos. Aqui, Valéria desempenha um papel de mãe cruel jogando toda a culpa da ruína de sua vida em sua filha Vanessa. É uma convivência que entristece o leitor e mexe com seus sentimentos.

Vanessa carrega uma carga emocional muito grande devido aos fatos do passado. Isso acaba deixando o livro bastante dramático e envolve o leitor, pois sentimos as dores, os medos, as inseguranças e a rejeição junto com a protagonista. 

Atos geram consequências, e Valéria conseguiu ser fruto de diversas mudanças em Vanessa. Crescendo em meio ao caos, sua personalidade foi se moldando as situações que vivenciava. Agora adulta, percebe-se os problemas que a falta de amor lhe gerou, sendo que ela não consegue transpor a barreira de expressar seus sentimentos para com as pessoas em seu convívio, não conseguindo se apaixonar verdadeiramente. Acima de tudo, Valéria prova que as palavras podem ferir, machucar e deixar qualquer um em pedaços. Elas podem permanecer na memória e nunca serem esquecidas, triturando nosso interior.
''-Talvez eu pareça muito ingênua, mas de qualquer forma digo uma coisa para a senhorita; passado é passado, e é lá que deve ficar.
-E quando a gente não esquece?
-Não é pra esquecer, é pra não deixar ele atrapalhar o hoje.''    Pág. 191, 192

Esses problemas de infância e os dramas pelos quais Vanessa passou não nos são revelados logo no início, fazendo o leitor virar avidamente as páginas em busca das respostas, os fatos que desencadearam tanto desprezo por parte de uma mãe. Sendo um livro curto e de leitura fluída, concluí-se a obra em pouco tempo ansiando por mais, já que nem todas as dúvidas e segredos nos foram revelados nesse primeiro volume, além do ponto crucial em que a história termina. 

Uma Canção Para a Libélula é um livro muito bem escrito e que consegue nos passar uma torrente de diferentes sentimentos durante a leitura. Tratando de um tema frágil como a depressão, a obra é incrivelmente bela e profunda. As metáforas, a narração, o tema, os sentimentos..., tudo se encaixou perfeitamente. A ansiosidade pela continuação permanece, com um desejo de que muitos possam ler e se apaixonar pela história da menina e sua libélula.

6 comentários:

  1. Rafaaa!
    Pooxa, que resenha liinda! É sempre um prazer e um misto de sensações ler uma nova resenha, e suas palavras me encantaram e me fizeram sentir que tudo valeu à pena.
    Muito obrigada por ter tratado a Vanessa com tanto carinho.
    Espero poder levar o final da história a você looogo!

    Um grande beijo no coração!

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    1. Ju, fico extremamente feliz por saber que você gostou, e valeu a pena porque a história é belíssima. Quero logo o segundo livro flor, ansiedade grande aqui ;)
      Beijos!

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  2. Eita, Rafa! Gostei muito da sua resenha o/
    é um tema bastante pesado e muito diferente do que estou acostumada a ler. Conheço pessoas que sofrem de depressão e eu sempre desejei muito ajudá-las mas não tenho conhecimento, por isso só ofereço meus ombros e ouvidos.
    O livro dá alguma dica? Ele permite que eu conheça como é o interior de uma pessoa depressiva?
    Fiquei interessada.

    Beijos, Iza
    http://livrosontemhojeesempre.blogspot.com.br/

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    1. Iza, o tema é realmente diferente do que costumamos ler, e só isto já é um fator para dar uma chance a obra.
      Como o livro é narrado em primeira pessoa pela própria Vanessa, nós acabamos conseguindo conhecer sim o interior dela e entender os motivos da depressão. Vendo os pensamentos da personagem é possível compreender um pouco esses sentimentos e conflitos presentes que tanto atormentam.
      Acredito que cada pessoa é diferente, mas o livro lhe daria uma boa base para conhecer alguém com depressão internamente, para poder tirar suas próprias conclusões. Mas fica a dica de uma leitura recomendada sobre o tema ;)
      Beijos!

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  3. Já amei a resenha, preciso ler o livro.

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